Depoimento de Paulo Malária sobre o retorno dos vinis


Produzindo discos há 38 anos - primeiro vinis, depois CDs - presenciei a completa mudança do mercado da música e sua interação com a midia.
Quando fui levar o 1 LP do Acidente, acreditei que tocaria. Mas tocou bem pouco, e quase só na Maldita, que pôs em pra´tica um método de captação de opinião (músicos de bandas indies, tocando no início 100% de independentes arrebanhando assim formadores de opinião, depois 90%, 80%, até chegar a 0%. Outras FMs nos programaram, como a Universidade/Estácio e, antes de tudo, o programa "Poeira & Country" da 98. Bastante? Você não vai achar nada do Aça nos Top 1000 de qualquer ano.
Memórias de minhas visitas às rádios;a gravadora tinha interesse em que o disco novo fosse programado, a editora sempre, e o empresário quando o grupo fosse tocar na área. Não vou dizer que rolasse jabá, isso só com provas. Mas nós estávamos fora.
Fim do Mundo é o segundo vinil independente do Acidente, lançado em 1983.Nunca tivemos empresário, nem gravadora, nem editamos nossas músicas.
O novo Acidente dos anos 90 andou pra isso. Gravávamos instrumental de inspiração progressiva, sem a menor intenção de tocar no rádio. Foi um tempo bom. Mas o prog, como tantas grandes formas de arte, começa a padecer de falta de inspiração.
Então voltamos ao rock, mas agora sempre com 1%, 2%, 5% de progressivo em algumas composições, pois fica o gosto.
Piolho é o terceiro vinil independente do Acidente, lançado em 1985. Outro dia li num site, acho que de metal, uma pergunta: Como revitalizar o mercado? Resposta difícil. As lojas de discos fecharam (o que significa que as grandes majors acabaram ou encolheram), as FMs estão segmentadas e há espaço para umas 3 viverem de antigos hits pop dos anos 80, mas poucos cantinhos para o rock. Não sei se um taxista perceberia meu êxtase se entrasse no taxi e estivesse tocando no radio "Dancing with the moonlight". As rádios preferem não mexer em time que está perdendo de pouco.
Em Caso de Acidente... Quebre Este Disco! é o 4º vinil independente do Acidente, lançado em 1989Mas,voltando à pergunta, uma realidade vem à mente: o vinil está voltando. Primeiro em edições luxuosas de 12 polegadas, para um público de maior poder aquisitivo.
Mas, se volta o vinil, volta junto o toca-discos. E o que pode vir com ele? Os compactos!
Estes pequenos discos de 7 polegadas, com 1 ou 2 faixas de cada lado, traziam consigo a possibilidade de que um número astronômico de bandas, pois não era preciso preparar mais de uma hora de som . Duas músicas, uma capa informativa e pronto: pleno emprego para os músicos de bandas de rock. E outros gêneros também.
Talvez não seja muito fácil para um grupo de metal ou prog gravar músicas de no máximo 6, 7 minutos. Mas pensem nas possibiliddes: as lojas reabrindo, os músicos carregando seus discos em sacolas, toca-discos reproduzindo essa arte. Onde 10 gravavam LPs ou Cds, 1000 gravavam compactos.

Paulo Malária

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